COLUNA: EFEITO BORBOLETA

DUAS DÉCADAS

 

 

Como duas décadas podem mudar tanto as pessoas e o contexto em que elas vivem?

Faço uma reflexão de mim mesmo e do meu derredor.

Assusto-me com tanta mudança.

Essa reflexão tem como pontos referenciais 1995 e 2015.

Tais datas referem-se a dois momentos importantes na minha formação profissional e por que não dizer, pessoal também.

Em 1995, eu havia acabado de concluir minha licenciatura em História.

Inicialmente, meu desejo era ser jornalod_jornallista, não professor, mas o traçado da vida havia me levado por um caminho e não pelo outro.

Em 1995, eu já estava dentro da sala de aula, buscando formas para me fazer entender e apresentar aos alunos, a beleza e a importância de tudo o que havia estudado, com interesse, afinco e amor.

Deparei-me com uma luta muito difícil. Nem todos consideravam o que eu dizia e dava a devida importância, atribuída por mim, ao que eu ensinava.

Havia me deparado durante as aulas do curso superior, com seres muito envolvidos com o que ensinavam e aprendiam.

Era uma vontade muito grande de encontrar uma forma de mudar o mundo, de transformar a sociedade, de buscar estratégias capazes de tornarem os indivíduos em cidadãos conscientes, politizados e interessados em fazerem a diferença.

Não havia o avanço tecnológico que existe hoje.

Os conhecimentos e as informações chegavam mais tarde e com maiores dificuldades.

Mas a vontade estava ali.

Vontade de ver o Brasil mudar após 21 anos de ditadura militar.

Havíamos colocado no poder, em 1989, o primeiro presidente após o autoritarismo implantado em 1964.

Jovens, a partir dos 16 anos, foram autorizados a votarem e todos queriam participar do processo democrático.

Mas com postura de cobrança, em 1992, engrossamos fileiras para derrubarmos a corrupção do governo recém eleito.

A esperança era grande.

A vontade de mudar também.

Vinte anos depois, estava eu na universidade novamente, me permitindo realizar os planos de ser jornalod_jornallista, guardado na gaveta dos projetos adiados.

Era a realização de um objetivo.

O professor de História estava abraçando o jornalod_jornallista, no forte desejo de juntos, somar a teoria dos conhecimentos históricos com a prática jornalod_jornallística, em prol da mudança social.

Vinte anos foram suficientes para mudar muita coisa.

Quanto a mim, amadurecido e experiente, tornei-me muito melhor. Mais eficiente e eficaz em minhas ações. Mais tolerante e consciente nos meus atos.

Mas… Como o meu derredor mudou!

Ou minha mudança me fez sentir o passar do tempo?

Sei lá.

Só sei que a tecnologia evoluiu, mas as pessoas se tornaram menos esperançosas, talvez menos aguerridas e mais complacentes com a corrupção e com a miséria alheia.

Vinte anos, entre um curso superior e outro, vivendo a democracia plena, incomodo-me e entristeço-me com a apatia de grande parte da população.

A diferença é grande entre aqueles que se formaram comigo em 1994, cheios de esperança e vontade de lutar, para aqueles que saíram da universidade comigo em 2015, cheios de incertezas e falta de confiança em sua capacidade de vencer ou mesmo de lutar.

Não como coincidência, mas como continuidade do processo político corrupto e insano, hoje vivemos situação semelhante de vinte anos.

Responsabilidade nossa ou dos políticos?

Eles são inescrupulosos e corruptos, mas chegam ao poder através de nós.

Sendo assim, podemos mudar o panorama estabelecido?

Como professor, nessa longa jornalod_jornalda,  tenho o dever de arregimentar os meus alunos, com o arcabouço de conhecimentos críticos e questionadores, necessários para que façam as escolhas corretas e exijam seus direitos e o respeito que todo cidadão merece.

Como jornalod_jornallista, meu compromisso é informar. Desnudar com a verdade, as entranhas das ações corruptas e vis, que assolam o país, deformando sua identidade de Nação e sua credibilidade de Estado.

Duas práticas muito próximas, porém distintas, mas ambas com responsabilidade absurda, que é a de armar o cidadão, com conhecimento necessário de sua trajetória e da sua capacidade de transformação. Esse seria o papel do professor.

Mas também proteger o cidadão, através do jornalod_jornallismo responsável, com informações fidedignas e não manipuladoras, para que ele possa tomar suas decisões com tranquilidade e liberdade.

Sou professor com orgulho.

Sou jornalod_jornallista com orgulho.

Mesmo que o país que eu vivo não dê a devida importância e deixe os cursos de licenciatura e os de comunicação caírem no acaso do desinteresse, estou inteiro e firme, dedicado e investindo, através deles, na formação de um mundo melhor.