A gente quer comida, cultura, diversão e arte

É no mínimo curioso, para não dizer encabulante.

Minha intenção, juro, não é fazer um texto com o demonstrativo da minha tendência política, embora, não quero me fazer de ingênuo, pois provavelmente, até os menos sensíveis, notarão essa opção.
Confesso que o meu desejo real é fazer uma reflexão sobre o atual cenário nacional para possibilitar a compreensão do que acontece ao nosso redor.
Meu primeiro imbróglio mental, com relação ao que nos envolve nesse país, já poderá levar o leitor a pensar: sabia que ele faria uma apologia política!
Na verdade não. Embora pareça sim.
Mas penso e pergunto, ao ver as nomeações de Michel Temer, o seguinte: Em 2014, num pleito apertadíssimo e muito disputado, 54 milhões de eleitores não elegeram Dilma Rousseff, do PT, para presidente da República? Junto a ela não estava o PMDB, que indicara o candidato à vice-presidência, Michel Temer? E quem foi o principal derrotado naquela eleição? Não foi o PSDB, representado pelo seu candidato Aécio Neves?
Então?
Fico boquiaberto ao presenciar a escolha do presidente em exercício, para os ocupantes das principais cadeiras do seu governo, pois está lá o PSDB, derrotado nas urnas, com seu candidato cercado de denúncias, indicando os principais cargos da nação.
Não há uma inversão na disputa?
Para que o brasileiro foi às urnas em 2014?
Escolher o quê? Milhões de eleitores foram derrotados pelo desejo de 513 deputados federais e 81 senadores, sendo ambas as casas legislativas, presididas por políticos investigados por corrupção e muitos dos deputados e senadores acusados de crimes gravíssimos, alguns desses crimes, muito maiores que os julgados para afastarem a presidente.
Não é no mínimo curiosa tal situação?
Volto a reafirmar, não quero entrar no mérito do julgamento. Se o impeachmeant foi golpe ou não. Pretendo apenas analisar o que temos para o momento.
O derrotado é quem manda? O co-autor dos crimes julgados vira algoz de quem apoiou e dá os braços a quem enfrentou nas urnas? É muita inversão de acontecimentos para um país só. Se a crise existe, como resolvê-la?
O “ministério dos marqueses” foi montado.
Não há como negar isso e projetos sociais foram suspensos de imediato.
O Ministério da Educação, que desde os idos de FHC, em um acordo moral, foi sempre blindado das barganhas políticas, desta vez, foi para as mãos do DEM, que carregou consigo a Cultura.
Aliás, o setor cultural, perdeu em primeira decisão, seu status de ministério para virar uma secretaria, um apêndice do Ministério da Educação. Este, por sua vez, já vem pedindo socorro há muito tempo, desde a negativa de se encaminhar para a Educação, parte dos royalties. Afinal, para que povo educado, intelectualizado e consciente de sua cidadania e de seus direitos políticos? Inclusive, o atual ministro já deixou clara sua intenção de privatizar o Ensino Superior. Fies, Pronatec, Ciências sem Fronteiras, ProUni, Sitema de Cotas???
Quem assumiu esse corpo estranho dentro do Ministério da Educação foi o ex-secretário de Cultura da cidade do Rio de Janeiro, o jovem Marcelo Calero, cria do prefeito Eduardo Paes, do PMDB.
Após duras críticas pela falta de oportunidade para mulheres, a secretaria foi oferecida a cinco delas, que declinaram do convite.
Na verdade, essa atitude foi um retrocesso tosco de 30 anos, visto que, até prefeituras pequenas, há muito já desmembraram a Cultura da Educação, concedendo a ela autonomia secretarial.
Curiosa foi à justificativa.
Era necessário corte de gastos de alguns ministérios e o da Cultura não mereceu o seu devido destaque.