COLUNA: EFEITO BORBOLETA

SERÁ A LUTA INGLÓRIA?

 

Espanta-me que muitos ainda continuem acreditando na culpabilidade do professor pelo fracasso da Educação no país.

A Educação vai muito mal por culpa dos governos corruptos que roubam de colégios e hospitais para encherem seus bolsos.

Esse descaso, aliás, nem diria descaso não; essa ação desmanteladora da Educação no Brasil é histórica.

Muito do que ainda se consegue é através da dedicação que o professor oferece a seus alunos, enquanto que sucessivos governos promovem a desigualdade e o empobrecimento da população.

Professores fazem muito mais que as próprias famílias, que há muito, entregaram seus filhos, alguns deles na marginalidade, para as escolas darem jeito.

Quanto à afetividade? É despendida aos alunos pelos seus professores. A afetividade que a sociedade preconceituosa e segregacionista lhes nega.

O desinteresse pelos cursos de licenciatura é fruto dos investimentos pífios que são destinados a Educação, desmotivado a formação de profissionais de carreira no magistério.

E os professores que continuam, adoecem dentro das escolas sem terem como buscarem saúde de qualidade.

E agora, propõem para a atuação nas salas de aula, os de “notório saber”. Pessoas que precisarão ter formação, mas com certeza, serão os apadrinhados pela política suja, que paga mal seus servidores para enriquecerem comissionados e empreiteiros milionários.

Quem dera o motivo da evasão escolar fosse a falta de afetividade. A evasão escolar é fruto da criminalidade que oferece aos jovens alternativas de vida aparentemente muito mais criveis para saírem da pobreza do que o estudo. Professores lutam contra isso diariamente, enquanto as próprias famílias já entregaram seus filhos para o tráfico.

Professor não tem que ser reciclado. Lixo que passa por reciclagem. Professor tem que ser estimulado às formações continuadas, mas com vistas a melhorias profissionais e salariais. Professor precisa sobreviver de seu ofício sem precisar se matar em vários empregos para fazer um salário de sobrevida.

Não sei quando o Brasil vai começar sua reforma, mas ela precisa sim, de discussão e avaliação. Não imposta através de um modelo que começa a reformar o teto, enquanto a base é podre. Medidas atabalhoadas não resolvem problema. Apenas camuflam.

Não são as metodologias aplicadas pelos professores ou mesmo a tecnologia rudimentar da escola pública, que levam os alunos ao desinteresse e à evasão. As escolas estão mal estruturadas e a carência de subsídios básicos para a sobrevivência, que levam os alunos a trabalharem muito cedo, principalmente na informalidade ou para a criminalidade.

Certos pensamentos estão muito voltados para a rede privada, onde jovens de pode aquisitivo alto, pagam mensalidades altas e têm retorno de infra-estrutura. Essas escolas possuem recursos de todos os tipos para apoiarem aulas com metodologias avançadas e ultramodernas. Quanto à escola pública, está em prédios destruídos, sem nenhum tipo de recurso. Entretanto, atendem alunos que vão à escola em busca de alimento (quando tem). Muitos deles são violentos e agressivos, frutos de uma sociedade que os exclui e discrimina.

As escolas e o ensino não são apenas chatos. Essa visão é simplista demais. Não vale a pena nesse país, investirmos do nosso próprio bolso, em especializações que não trarão o retorno financeiro compatível com o investimento.

Afirmo que hoje, com o salário achatado não existem reservas financeiras nos bolsos dos professores, para investimentos em formação. Professores que se especializaram com pós-graduação, mestrado e até doutorado, há anos não são enquadrados pelo governo para conseguirem recuperar, pelo menos uma parte, do investimento que fizeram.

Com a autoestima debilitada, achar que professores ainda têm estímulo para grandes inovações metodológicas é querer demais. Muitos estão abandonando a carreira. Ainda faz muito além do que recebem de condição para fazer.

São heróis nesse país de bandidos de todos os níveis. E não será a imposição de uma reformulação do Ensino Médio que resolverá o problema.

A proposta do governo federal é acintosa. Ela segrega os profissionais do magistério a uma posição de reféns do sistema falido e abre portas para os apadrinhados de plantão. O cerne da reformulação pode até ter sentido, mas não pode ser aplicado dessa forma. Precisa de grupos de estudos e discussão sobre ela, leve o tempo que levar. Ela agrada a fundações como a Roberto Marinho e a Ayrton Senna, que usufruíram de rios de dinheiro destinados à Educação no estado do Rio. O discurso deles é muito bem colocado para uma sociedade que não é a nossa na realidade.

Enfim… para onde iremos ainda não sei.

Mas a situação é deplorável.

Culpar professor é muito fácil, porém injusto e arbitrário.

Culpemos aqueles que têm o poder da caneta, mas a usam em proveito próprio.