COLUNA: EFEITO BORBOLETA

ALDEIA DA MATA

Certa vez, em meio a uma mata inóspita, vivia uma comunidade de minúsculos aldeões.
Ali foi estabelecida uma forma de viver muito específica e distante do mundo “real”.
Eles montaram a sua própria estrutura de vida.
Não sabiam dos humanos, seres tão distantes deles, que vivendo na selva de pedra, visavam o lucro capitalista e para isso, exploravam vorazmente uns aos outros.
Na Aldeia da Mata, a vida era boa, pacífica e seus habitantes se respeitavam mutuamente, sem exploração.
Com o passar do tempo, um grupo entendeu que não deveria ser mais assim. Que deveria haver mais ordem na aldeia e seria necessário escolher um grupo idôneo e sério para administrar as riquezas para que elas não fossem gastas de
“qualquer maneira”.
Na composição desse grupo, foram escolhidos aqueles que melhor representariam os moradores.
O mais interessante foi o formato que se estabeleceu a partir daquela decisão.
A aldeia tinha o seu líder, o aldeão mais antigo e experiente, que era substituído a pedido ou por causa morte. Esse líder deveria ser sábio e sensível as necessidades do povo.
Entretanto, na proposta de mudança, o líder foi convencido a escolher um grupo que serviria de apoio nas decisões. Para atender o grupo que o cercava, na sua escolha o líder não levou em conta fatores imprescindíveis, tais como moral ilibada e competência, apenas se pautou pela troca de favores, oferecidas pelo grupo que o rodeava.
Estava organizada ali a nova forma de governo da Aldeia da Mata.
O grupo que assumiu gostou da posição de mando e estabeleceu uma série de planos que agradassem o líder da aldeia e que pudessem usufruir do trabalho dos aldeões.
Criaram projetos e propostas mirabolantes de trabalho, que eles, poderosos, não precisariam desempenhar, bastava saber mandar e conduzir. Uma boa oratória e a exigência do alcance de metas e índices seriam o suficiente para agradar o líder e permanecerem no poder.
Alguns aldeões foram chamados a comporem o grupo em troca de polpudas gratificações.
Imediatamente, esses aldeões esqueceram-se de sua origem e passaram a ver o grupo superior como a quem não poderiam questionar nunca.
Outras gratificações foram oferecidas e a aldeia da Mata foi se dividindo.
De um lado, os burocratas ao redor do líder; de outro os trabalhadores, que passavam a enfrentar trabalhos cada vez mais exaustivos, em troca de benesses que resolviam os problemas superficialmente, mas não a fundo, nas estruturas.
Diante dessa usurpação, da exploração sem o retorno devido, da falta de recursos para o trabalho, atrelado às ameaças de corte de direitos, os trabalhadores resolveram cobrar dignidade, esperando uma atitude do grupo poderoso.
Não sendo atendidos, resolveram parar a produção de trabalho na expectativa de verem seus direitos respeitados.
O grupo dos poderosos teimou em não reconhecer o erro, levando os trabalhadores a firmarem pé numa luta pela garantia de seus direitos.
O curioso foi que mesmo a maioria protestando, alguns aldeões resolveram continuar no trabalho sem se importar com o que estava ocorrendo a sua volta.
Era a divisão da classe aldeã.
Divisão difícil de ser entendida, visto que as exigências dos que lutavam beneficiariam os que atendiam as expectativas da nova liderança, caso ganhassem a briga.
Não seria mais coerente e representativo, portanto mais forte o movimento, se todos aderissem à causa? Mas não, muitos por medos, receios e interesses próprios permaneceram no trabalho, gerando um enfraquecimento parcial do movimento e portanto, fornecendo armas poderosas aos inimigos do momento.
A corda estava tesa e esticada, favorecendo apenas o grupo do poder.
Relatos dão conta que os humanos, em trabalhos arqueológicos encontraram essa antiga comunidade, enterrada no tempo e na terra.
O sítio arqueológico deu algumas pistas para a construção dessa história. O que não se sabe ao certo é se houve uma adesão completa dos trabalhadores em prol de seus direitos, fazendo com que o grupo do poder atendesse os seus pedidos ou se os trabalhadores, atemorizados, não tiveram coragem de se rebelar contra o grupo do poder e seu líder e foram “escravizados”, mantendo-se cabisbaixos, sofrendo a exploração até seus últimos dias, quando a Aldeia da Mata foi soterrada por uma tempestade no meio da floresta.
Enfim, não se sabe ao certo o que aconteceu… se a história poderia ter sido diferente…
O que se sabe é que um grupo de trabalhadores lutou.
Isso é o que Vale.
A Vitória está na não aceitação das imposições e na luta pela garantia de direitos.
Ou se o grupo amedrontado e com palavras desmotivadoras conseguiu desarticular o movimento, levando dessa forma, os trabalhadores a abandonarem sua luta e serem destroçados pelo grupo dominante do líder corrompido.
Qual será o final da história da nossa aldeia?
Depende de nós construímos o nosso futuro.
Vencerá aquele que for mais forte e firme em seus ideais.
Qual sua decisão, aldeão?