COLUNA: EFEITO BORBOLETA

QUE JEITINHO É ESSE?
O brasileiro criou uma imagem muito interessante, não sei se por proteção ou mesmo para criar uma personagem que não fica entre as quatro paredes do país, mas é pateticamente exportada para o mundo. Ele gosta de propagar o tão conhecido “jeitinho brasileiro”. Eu não aprovo essa alcunha, aliás a reprovo retumbantemente.
Eu vejo nessa expressão o cerne da corrupção que assola nossa terra.
Quando alguém alega que pode dar um jeitinho para tudo, ela quer dizer que pode furar uma fila, pode parar seu carro em uma vaga para idosos ou deficientes. Que pode ter um atendimento de melhor qualidade que alguém, apenas por ter contatos importantes. Que pode sonegar um imposto, que pode subornar alguém e daí por diante. Embolsa um dinheiro que não é seu. E geralmente essa grana não é pouca.
E o jeitinho brasileiro vai sendo dado constantemente. Somos corruptos de natureza? Somos corruptores por essência? Será? Ou apenas nos acostumamos a achar que existe “crimezinho e crimezão”?
É algo a se pensar com urgência para não acreditarmos que nos tornamos donos do que é público porque estamos num cargo há muitos anos. Ou achar que estamos acima da lei e do direito do outro, porque temos um poder que nos foi concedido pela democracia representativa, no caso dos políticos, que quando eleitos e cheios de prerrogativas de proteção se acham acima do bem e do mal e passam a ignorar e a usurpar o povo que o elegeu como seu representante. Esse é o jeitinho brasileiro a que me refiro.
Esse jeitinho se alastrou e tomou proporções caóticas, pois leva o povo a acreditar que as soluções adotadas e amparadas por essa justificativa resolvem todos os problemas. Afinal que mal há em sobreviver de cestas básicas que são dadas na prefeitura, nas portas das igrejas e centros espíritas? Ou mesmo viver dos planos assistencialistas e populistas do Estado, que também não passam de jeitinhos para não resolverem o problema na sua fonte, como a falta de emprego e a carestia no país, mas garantem a corrupção na hora do seu voto.
É preciso dar um basta nesse cancro social, que adoece nosso povo transformando-o num triste exemplo mundial de hipocrisia, corrupção e falta de credibilidade.
Eu ainda acredito que o único meio de reversão dessa triste sina é a Educação. Única forma honesta de entrar na vida e nas casas das pessoas de forma limpa e digna e transformá-las, despertando a consciência e o valor das boas práticas, honestas e reais.
Não à Pátria Educadora do governo federal ou à política suja da meritocracia do estado do Rio de Janeiro, corrompida pela sujeira da toma lá, dá cá, onde o interesse é derrubar a estabilidade do funcionário público com o claro objetivo e desenvolver mais um comércio de cargos e funções gratificadas.
A Educação de qualidade e respeito que cada professor vem fazendo ao longo dos anos, mesmo com os salários indignos da função imprescindível que exerce, não permitirá esse descalabro desrespeitoso.
Escolas sucateadas e sem verbas para seu funcionamento necessário. Sem segurança e sem merenda condizente à necessidade do aluno. Falta de material pedagógico e humano que estão levando a educação do estado ao fundo do poço.
Índices e metas forjadas para aparentarem o que na prática não existe. Oferta de bonificações escamoteadoras, bem como irrisórios abonos que não resolvem o problema, tornando-se elementos passíveis de ameaças de cortes por parte do governo e no final, não são incorporados aos salários.
O professor público do estado do Rio está em greve e o mais absurdo disso tudo é ver a postura daqueles que representam o governo nas escolas, usando dessa prerrogativa para impedir os professores que brigam pela manutenção de seus direitos, serem impedidos de entrarem na escola.
Como isso é possível? A escola é pública e democrática e prescinde de seus professores dentro delas, em convívio com seus alunos. Impedir qualquer cidadão que seja e principalmente o professor de adentrar em um espaço que é seu, pela natureza do local e de sua função, é no mínimo coação, constrangimento e resgate dos mecanismos de opressão e repressão há muito superado em nosso país. Só por causa do meu engajamento no movimento, que é legítimo e constitucional, uma escola ao saber que estava ali para conversar com meus pares dentro do colégio, bateu o seu portão em meu rosto, como se eu fosse levar terrorismo à escola. Vergonha alheia foi o que senti.
Esse é o jeitinho brasileiro que finge solucionar os problemas e contra o qual devemos empreender grande luta contrária. Abolir essa prática danosa, que apenas nos envergonha e deturpa nosso caráter, deve ser o alvo de guerra do brasileiro honesto e que odeia a hipocrisia.