COLUNA: EFEITO BORBOLETA

Pobre do nosso Rio Doce… Este é o lamento do cidadão brasileiro ao se deparar com o maior desastre ambiental ocorrido no Brasil. Acidente ou Irresponsabilidade? Só sabemos que a tristeza é profunda ao vermos o rio Doce enlameado com rejeitos de minério, levando um rastro de destruição para o ecossistema, sem contar as perdas materiais e humanas da população sofrida. O texto da Profª Maria da Gloria Ferreira é oportuno neste momento. Ele é anterior ao desastre em Mariana (MG). Como uma “profetiza”, Glorinha escreveu uma ode esperançosa aos rios.

AINDA HÁ TEMPO

Nilo, Amazonas, Mississipi-Missouri, Ob-Irtich…
Nomes de rios, claro, rios enormes, aliás, os mais extensos do planeta, segundo os compêndios de Geografia. Nomes que me tiravam o sono, quando aluna, às vésperas das provas. Onde nasciam, que países percorriam, que importância tinham, segundo os professores, pela localização dos mesmos nas diferentes regiões do mundo.
Dentre eles, encantava-me sobremaneira o Nilo. Que pujança! Encantava-me com o fato de que a civilização egípcia devia o seu surgimento ao rio. “Eta, rio importante”, pensava eu, “pois a ele até os faraós se curvavam!” E lá ia eu lendo sobre pirâmides, múmias, gafanhotos…
Mas voltemos, leitor, aos rios. Aliás, voltemos não aos mais extensos rios do mundo, mas a um pequeno rio que, se comparado ao Nilo e aos seus iguais em importância, sua água corresponde a uma gota, acredito. Dizem os mais antigos moradores que, no passado, nele pescavam e até nadavam. Mas é dessa “gota” em comparação aos demais “oceanos” citados – Nilo, Amazonas, Mississipi-Missouri, Ob-Irtich – que tiramos, para nossa sobrevivência, a água do dia a dia. Sobrevivência, sim, pois dele dependemos porque sem água morremos.
Que me permita plagiá-lo, grande poeta Fernando Pessoa, mas “não há rio mais bonito que o rio da minha aldeia” e nem mais importante, poeta!
Dele vem a água em que nos banhamos, cozinhamos nossos alimentos, regamos nossas plantas, mitigamos nossa sede; dele vem a água que, particularmente, permitiu-me e encorajou-me, e encoraja a tantos cordeirenses de coração a fazer desta cidade a nossa cidade.
Mas, caros leitores, há um bom tempo, ou melhor, há mais de uma dezena de anos, ouvi de um grande defensor da natureza, Barrinho, que a vida do nosso pequeno rio se encerraria em 2018. Seria exagero de um homem que não se envergonhava de defender suas ideias expondo-as em uma tabuleta na calçada? Não sei. Só sei que nada foi feito para se evitar a tragédia anunciada pelo Al Gore cordeirense, o Barrinho. E o 2018 está perto, e aí?
Será que pelo fato de uma pessoa estar num leito hospitalar deve-se negar-lhe um tratamento digno e se ficar esperando sua morte? Parece-me que se trocarmos nesse questionamento o substantivo comum “pessoa” pelo, também comum, substantivo “rio”, concluiremos que é o que está acontecendo com o nosso pequeno rio. Não atraiu ele, certamente por sua pequenez e desimportância, nenhuma civilização a seu redor, mas tem ele um município homônimo, o que muito nos honra. Nome de pássaro, só que não se trata de uma fênix, que ressurge. Em rios, se a nascente seca, o leito vira chão batido.
Macuco, o meu rio. Cordeiro, a minha aldeia. E não há rio mais bonito e nem mais importante para mim, meus filhos e meus netos, que o rio da minha aldeia.